A Espiã (Zwartboek, 2006)

(Suspense/Guerra, Holanda/Alemanha/Bélgica, 2006. Direção de Paul Verhoeven. Com Carice van Houten, Sebastian Koch e Thom Hoffman. Duração 02h25min.)

Depois de mais de duas décadas dirigindo e produzindo filmes em Hollywood, Paul Verhoeven, diretor de sucessos como Robocop, Instinto Selvagem e O Vingador do Futuro, volta a filmar em solo europeu, e temos como resultado esse excelente filme.
A judia holandesa Rachel (Carice van Houten, muito bonita e demonstrando muita segurança no papel) adota o nome de Ellis e se infiltra entre os alemães para ajudar a resistência holandesa na 2ª Guerra Mundial. A crise de consciência é o cerne do processo de transformação da morena Rachel na loira Ellis – transformação essa que Verhoeven registra com sua usual obsessão pelo mundano e pelo choque, como na cena em que Carice pinta até os pêlos da vagina para enganar os nazistas. Nesse processo, o embate mais profundo acontece entre a sedução da assimilação (os alemães têm o dinheiro, as armas, o poder, o champagne e o chocolate que faltam aos holandeses) e o esforço de preservar a própria memória (Rachel viu sua família toda ser morta pelos nazistas antes de assumir o nome Ellis).
Memória, tanto pessoal quanto coletiva, é sinônimo de identidade para Verhoeven, nessa declaração de princípios que faz de A Espiã um longa bastante ético sobre questões fundamentais do Holocausto, como o colaboracionismo. RoboCop voltou a ser Alex Murphy quando teve sua memória reativada por resquícios materiais de sua velha casa. Rachel/Ellis fará de sua memória – mais especificamente, o pingente com as fotos de sua família, em brilhante cena do filme – instrumento de reafirmação.

Pelo caminho ficam as intrigas, as conspirações, os tiroteios, os amores impossíveis, os inimigos que se faziam de aliados, os aliados que se faziam de inimigos… A Espiã trata de temas abstratos sem abrir mão de uma narrativa e de uma estrutura típica dos filmes de espionagem e de guerra. O filme consegue transmitir suas idéias de uma forma que o espectador médio, mesmo inconscientemente, compreenda. Em nome de uma discussão que não tem nada de simplista, tem um roteiro cheio de reviravoltas, como deve ser, aliás, um bom filme de suspense e espionagem. E Paul Verhoeven assim readquire boa parte de sua reputação, executando esse belíssimo filme e se recuperando de porcarias como O Homem sem Sombra.

Nota 8.0 – ****

Veja aqui o trailer original do filme com legendas em português.

O Homem sem sombra (Hollow Man, 2000)

O pouco que se extrai de bom desse filme é a idéia original (a de um homem conseguir tornar-se invisível) e a primeira meia-hora da fita, que justamente desenvolve a busca do cientista em conseguir sucesso em sua experiência, junto com sua equipe. Pois bem, se você chegou até aqui, desligue a TV, mude de canal ou vá dormir, porque daqui em diante o filme descamba pro mais chimfrim terrorzinho de quinta, com o cientista (Kevin Bacon, não por coincidência) inexplicavelmente tomado por uma sanha de querer aniquilar seus companheiros de trabalho, abusar das mulheres à sua volta e exercer requintes de crueldade injustificáveis, já que o roteiro não explica o motivo de tanto “ódio”. Claro que os efeitos especiais são ótimos, mas desde quando apenas isso sustenta uma estória ?? Torraram com certeza milhões de dólares para produzir essa porcaria. O diretor Paul Verhoeven com certeza já fez coisa bem melhor que isso. Corra !!

Nota 4,5 – **

Veja abaixo o trailer original do filme (em inglês)