007 contra o homem com a pistola de ouro (The Man with the golden gun, 1974)

Satisfeitos com a atuação de Roger Moore no filme anterior (Viva e Deixe Morrer), os produtores Albert Broccoli e Harry Saltzman parece que resolveram economizar. Este segundo filme de Moore na pele do agente secreto britânico – 007 contra o homem com a pistola de ouro – é provavelmente o mais fraco de toda a série, principalmente em razão do baixo orçamento que o filme dispunha (apenas cerca de US$ 7 milhões). Um exemplo aparente deste corte nas despesas com a produção era o habitat do vilão, que podia ser operado totalmente por (apenas!!) duas pessoas – ou seja, esqueça aquelas centenas de ajudantes uniformizados empregados pelos vilões dos episódios anteriores que apareciam sobretudo nas partes finais dos filmes. O quartel-general do vião, inclusive, está mais para parque de diversões do que qualquer outra coisa. Mas apesar da produção até certo ponto meio mabembe, com poucas cenas de impacto, o filme acabou não sendo um fiasco completo e é conhecido por ter algumas cenas e personagens memoráveis para os fãs da série, além de um vilão de primeira linha.

A sinopse do filme nos apresenta Francisco Scaramanga (Christopher Lee, muito seguro e à vontade no papel), assassino profissional que tem algumas excentricidades: um terceiro mamilo (característica aliás que não é explorada pelo filme sob nenhum aspecto, tornando essa “anomalia” algo meio idiota), só usa balas douradas feitas especialmente para ele e cobra no mínimo 1 milhão de dólares por “serviço” – ou seja, coisas de um vilão bem ao estilo dos primeiros episódios de 007.

Pois o próximo alvo de Scaramanga é justamente 007, e o MI6 resolve lhe dar férias para que o agente possa se defender da ameaça. Bond resolve então ir à caça do vilão antes que este o encontre. Para isso contará com a ajuda pouco eficiente da atrapalhada bondgirl Mary Goodnight (Britt Ekland). Com o desenrolar de suas investigações, 007 vai chegando cada vez mais próximo de seu inimigo e também descobre que por trás de tudo está a invenção de um aparelho revolucionário que converte a energia do sol em raios laser poderosamente letais e perigosos.

Como dito hà pouco, o filme conta com algumas – poucas – cenas memoráveis, como o duelo final entre Bond e Scaramanga nas areias de uma praia e principalmente o salto em espiral sobre uma ponte semi-destruída a bordo de um carro vermelho, dando um giro de 360 graus para a frente (uma das cenas mais incríveis de toda a série, sem dúvida). Mas, infelizmente, o resultado geral não é lá essas coisas: o ritmo é meio arrastado, o roteiro não é complexo como um bom filme de espião exige e não há muitas cenas de ação que mantenham a atenção presa na tela, como nos outros filmes da série.

Como destaques do filme temos algumas atuações marcantes, seja pro bem ou para o mal. O ator-anão Hervé Villechaize, mais conhecido pela série de TV A Ilha da Fantasia, faz o braço-direito do vilão Scaramanga, Nick Nack, numa atuação que traz humor e sarcasmo ao filme. Outro ponto de alto humor no roteiro é a volta do xerife Pepper, feito pelo ator James Clifton, que já havia aparecido no filme anterior e agora volta ajudando Bond justamente na cena de perseguição de carro a Scaramanga. As bondgirls, porém, são um ponto altamente negativo da fita. A personagem Goodnight em nada ajuda Bond e apesar de bonita é tão burra que chega a ser bisonha. E a amante do vilão, vivida por Maud Adams, é na minha opinião a garota mais sem graça de toda a série (a atriz ainda voltaria num filme de 007 anos mais tarde, interpretando Octopussy, numa atuação bem mais razoável).

007 contra o homem da pistola de ouro é, à exceção do primeiro filme da série (Dr. No, exibido 12 anos antes), o episódio de menor bilheteria de toda a série. Arrecadou 97 milhões de dólares em todo o mundo, sendo US$ 21 milhões apenas nos EUA. A estréia foi logo no ano seguinte ao filme anterior da série (o que era comum na época de Sean Connery mas jamais se repetiu depois), visando consolidar a imagem de Moore no papel de James Bond. Apesar dos problemas na produção, o resultado final acaba não comprometendo, principalmente pelo desempenho do próprio Roger Moore que segurou o rojão com muita competência.

Nota – 6.0 **

Com 007 Viva e Deixe Morrer (Live and Let Die, 1973)

A fase Sean Connery estava encerrada definitivamente, e os produtores da série 007, Albert Broccoli e Harry Saltzman, tiveram que procurar outro ator britânico para interpretar o agente secreto mais famoso do mundo. Coube a Roger Moore, inglês nascido em Londres em 1927, a responsabilidade de dar prosseguimento ao carisma do personagem James Bond. Mesmo sendo tachado por alguns como “bonzinho demais” para o papel, Moore fez muito sucesso como 007, tanto que suplantou Connery no número de filmes – 7 contra 6 – e, para muitos fãs, também na performance.

Roger Moore talvez não possuía o mesmo charme e jovialidade que Connery, que quando estreou como Bond em 1962 tinha 32 anos, enquanto Moore já tinha 46 anos ao estrear este Com 007 Viva e Deixe Morrer, em 1973. Porém a missão que marca o início de sua fase no papel de 007 é sem dúvida uma das melhores aventuras de toda a série. Bond aqui deixa um pouco de lado a organização criminosa Spectre e se depara com uma missão recheada de rituais de magia negra e tendo como assunto principal o tráfico de heroína, mudando também o tipo de inimigo a enfrentar, que andava girando sempre em torno de ameaças nucleares.

Além do tráfico de drogas, a morte de três agentes secretos ao redor do mundo colocam frente a frente James Bond (Roger Moore) e Mr. Big (Yaphet Kotto, que mais tarde faria Alien – o Oitavo Passageiro), chefão do crime no bairro negro do Harlem, em Nova York, cuja organização criminosa age de acordo com as visões da cartomante Solitaire (Jane Seymour, com apenas 22 anos à epoca). Quando conhece Bond (e se entrega a ele), Solitaire perde os seus poderes e é condenada a morte num ritual vudu (mas claro, Bond estará lá para salvá-la).

Esta 8ª aventura de 007 é recheada de humor e grandes perseguições. Há espaço para tudo no roteiro, sempre de forma ágil e cheia de aventura: a cena inusitada do cortejo fúnebre que vira carnaval em Nova Orleans; Bond fugindo de seus perseguidores das mais diversas formas, pilotando desde lanchas ultra-velozes na baía da Lousiana (EUA) até um autêntico ônibus londrino – nem um avião de treinamento escapou do “ataque” de 007. Aliás, por falar em ataques, neste filme Bond teve que se livrar de uma cobra no banheiro, de crocodilos no mangue e até mesmo de tubarões na cena final do filme. Tudo isso muito bem conduzido por Guy Hamilton em seu terceiro filme como diretor da série 007 (antes já havia feito o ótimo Goldfinger e o bom Os Diamantes são Eternos).

Para ter certeza que a série estaria em boas mãos, além de Moore e Hamilton os produtores se cercaram de outras personalidades, que garantiram o sucesso do filme. A então novata atriz Jane Seymour impressionou como a Bondgirl Solitaire, tendo ótima química na tela com Moore e criando um clima de sedução e romance que fez muito bem ao enredo (muitos a consideram uma das mais belas mulheres de toda a série). E a música-tema do filme coube simplesmente ao ex-beatle Paul McCartney, e “Live and let die” foi um tremendo sucesso em todo mundo na época de lançamento do filme, em 1973 (inclusive foi indicada ao Oscar de Melhor Canção do ano seguinte, mas perdeu para Marvin Hamlisch pelo filme Nosso Amor de Ontem.

O vilão feito por Yaphet Kotto (Mr. Big/Dr.Kananga) é bem durão e um dos melhores da série, também. Kotto apesar de ainda jovem, teve uma atuação segura e à altura do que o papel impunha. Outro destaque vai para um dos asseclas de Kananga, Tee Hee, feito pelo ator Julius Harris (de King Kong 1976), conhecido por ter no lugar da mão direita garras de aço indestrutível.

Com 007 viva e deixe morrer arrecadou 126 milhões de dólares em todo o mundo, sendo US$ 35 milhões apenas nos EUA, e manteve em alta o mito James Bond após a saída oficial de Sean Connery. Aliás, Roger Moore fez muito mais que isso: imprimiu ao agente seu estilo pessoal, talvez menos charmoso mas muito mais irônico que Connery, o que faz dele um dos atores mais emblemáticos de toda a franquia 007.

Nota – 8.0 ****

Veja abaixo o trailer original do filme em inglês.